Imagino que ainda seja bastante frustrante para a grande maioria dos estudantes de cinema no Brasil a incapacidade da maior parte da teoria lida por aqui em dialogar com a prática e em oferecer explicações satisfatórias para a atividade de fazer filmes. De fato, há pouco a se obter nesse sentido das análises de viés marxista e culturalista hegemônicas na academia brasileira.
Felizmente, de alguns anos para cá, através do esforço de Fernão Pessoa Ramos, algumas das obras de David Bordwell foram traduzidas para o português, trazendo frescor para a teoria fílmica por aqui. Figuras Traçadas na Luz é uma análise da encenação em quatro diretores ligados a tradições bem distintas mas que têm em comum estratégias de mise-en-scène que privilegiam a expressividade do quadro: o francês Louis Feuillade, o japonês Kenji Mizoguchi, o grego Theo Angelopoulos e o taiwanês Hou Hsiao-Hsien; Sobre a História do Estilo Cinematográfico traça um amplo panorama do estilo no cinema; e A Arte do Cinema: Uma Introdução, escrito em parceria com Kristin Thompson, sua esposa e também uma renomada pesquisadora do cinema, é provavelmente o livro mais vendido no mundo de introdução aos estudos de cinema.
Transitando pelo formalismo, pela narratologia e pelo cognitivismo, Bordwell é hoje um dos estudiosos mais respeitados de cinema e suas análises nunca perdem de vista aquilo que grande parte da teoria contemporânea parece ironicamente esquecer em seus esforços por grandes teorizações: os próprios filmes.
Para além de seus livros, ensaios e artigos, Bordwell e Thompson mantêm o rico blog Observations on Film Art, onde postam cotidianamente suas reflexões. No intuito de ampliar o acesso do público brasileiro ao trabalho desses importantes pesquisadores, autorizados por eles, começamos a traduzir textos selecionados desse blog que vêm sendo publicados na Revista Janela.
Em A Rede Social: as faces por trás do Facebook, Bordwell analisa a importância e a riqueza das expressões faciais na narração de A Rede Social, de David Fincher.
Roteirografia é um resumo da participação de Bordwell em um congresso da Screenwriting Research Network, associação internacional de pesquisa sobre roteiros de cinema. O interesse maior do texto está em oferecer um amplo panorama dos caminhos de investigação desse campo específico de pesquisa ainda pouco conhecido no Brasil.
Em Preso entre Atos, Bordwell discute a validade da estrutura narrativa em três atos no cinema e as origens de sua onipresença.
Em breve, serão publicados também Mizoguchi e os segredos da imagem delicada, em que ele discute as estratégias de mise-en-scène do mestre japonês e Senso Comum + Teoria Fílmica, que analisa o processo de entendimento dos filmes pelo espectador, defendendo as vantagens de uma abordagem cognitivista da recepção dos filmes.
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